domingo, 24 de fevereiro de 2008

Uma preciosidade catalã

Desde o dia em que escolheu a imagem de apresentação deste espaço que a Bruxa anda para vos falar do que ela representa e das razões por que escolheu esta imagem e não outra.
Antes de mais nada, como é óbvio, escolheu-a porque gosta dela: a bruxa é uma admiradora entusiástica da arte medieval. Mas as razões são mais. Vejamos então.
A imagem que abaixo temos faz parte de um retábulo do altar de uma pequena igreja isolada, na Catalunha, do séc. XI: Soriguerola. O nome da igreja dá-nos uma ideia do que teria sido o ambiente na zona, na altura em que foi construída: deriva do Latim soricaria, que quer dizer "Toca de ratos".
Ora muito bem, foi aqui que um mestre desconhecido do séc. XIII criou uma obra que é a um tempo - e tal como era apanágio da arte medieval - um fantástico conjunto onde a beleza que se vê serve de veículo para toda uma lição de teologia. Ficou conhecida por Taula de Sant Miquel e, não se conhecendo o nome do autor, convencionou-se chamar-lhe Mestre de Soriguerola.
Cá está ele:

O conjunto conta toda uma história que era importante que os frequentadores da igrejinha soubessem. Trata-se de uma representação dos mundos dos vivos e dos mortos, que todos os homens, mais cedo ou mais tarde, haveriam de vir a conhecer muito bem. E este conjunto servia-lhes de guia. A barra vertical representa a fronteira entre os dois mundos.
A imagem que nos serve de base está - ora procurem lá com cuidado - no centro direito alto: pertence ao mundo dos mortos e representa a pesagem das almas.

Atentem lá em alguns pormenores:

à direita têm S. Pedro, com as chaves do céu (a torre que está por trás dele) na mão. Reparem como a mão direita é muito maior do que a esquerda: é com ela que segura as importantíssimas chaves. Com a outra mão recebe uma alma que estás prestes a entrar no paraíso.
O outro conjunto tem por personagens principais S. Miguel (de azul e descalço, como S. Pedro) e o diabo. Estão ocupados a pesar as almas dos que abandonaram o mundo dos vivos. A figura azul no prato esquerdo da balança representa as más acções que a alma que está no prato direito terá praticado ao longo da vida. S. Miguel vai decidir. Reparem no diabo que está do lado direito a tentar fazer batota, puxando o prato para baixo. Mas não consegue...

E se dos bons não reza a história, das almas perdidas o destino é outro:


o caldeirão do Inferno. Uma autêntica história de banda desenhada!

Se quiserem saber mais, vão aqui e leiam o que o senhor tem para dizer. A Bruxa leu com muita atenção e acha que pode ser interessante.
Depois desta breve reflexão sobre o destino dos homens (uffff!), bom domingo para todos...

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