sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Desculpas de maus autores


«Desculpam-se alguns autores, cujas obras representadas decorreram na primeira noite tumultuosamente, com a falta de ambiente. E filiam os "insucessos" das suas peças, não no seu desvalor, mas no desagrado que elas provocaram à plateia.
É uma fraca justificação essa de considerar "valiosa" uma peça porque o público a repudiou.
A obra era uma produção genial - costumam dizer - o público, porém, considerou-a má e condenou-a, evitando que ela fosse reconhecida como grande obra de talento.
O público é eterno pretexto que serve a certos autores para desulparem os seus malogros. Mas não é apenas por este facto apontado que o público merece a condenação de alguns dramaturgos. Em hipótese contrária, isto é, se o público aplaude e a peça cai, é ainda o público que teve a culpa... porque os aplausos foram em demasia... e esse facto foi tomado por insincera e extemporânea manifestação da claque.»

Mas onde é que eu já ouvi isto...?
Quando acham que isto foi escrito? Na semana passada? Há dez anos? Não... foi em 1934. Pelos vistos, pouco mudou no teatro em Portugal. Pois é, estas palavras foram escritas pelo poeta e crítico Augusto Ricardo, que assim disse o que lhe ia na alma acerca de certos "excelentes" dramaturgos da nossa praça.

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