sábado, 16 de fevereiro de 2008

16 de Fevereiro...

...de 1968 foi o dia mais feliz da minha vida, disse o actor, anos mais tarde. Nessa data, no TEC, estreara-se na peça de Gervásio Lobato, O Comissário de Polícia, encenada por Carlos Avilez, com cenário e figurinos do genial cenógrafo Pinto de Campos (engraçadíssimo na má-língua) e que tinha Mirita Casimiro – com quem aprendi tudo sobre o riso - como protagonista. Lia Gama foi a 'madrinha', Mário Pereira o 'padrinho'. Sabem quem foi? Infelizmente já não podem vê-lo: morreu demasiado cedo, em 1 de Abril de 1996, depois de ter trabalhado diariamente durante 30 anos no Teatro, Cinema, Disco, Rádio e Televisão.



Não foi mentira, foi a sério. Com sério foi o seu papel no teatro português durante esses 30 anos. Diseur como poucos, entendia a poesia na sua essência e o cuidado que tinha com a língua portuguesa valer-lhe-ia – que outras coisas não houvesse! – um lugar ímpar. Actor multifacetado, criou uma miríade de personagens sempre diferentes, sempre tocantes. Do riso às lágrimas, da ternura à provocação, tocou toda a escala de emoções e sentimentos sempre com força, sempre certeiro.



Profundamente envolvido na sociedade em que viveu, em 16 de Novembro de 1995 anuncia a sua intenção de se candidatar à Presidência da República e durante algum tempo faz campanha a partir do palco: Ao contracenar com Marcelo Mastroiani descobri que não conseguiria ser o Maior Actor de Portugal, da Europa e do Mundo, de Teatro e Cinema; o mais popular Cómico do país e com maior unanimidade; ter um lugar em Hollywood; [...] representar em francês, espanhol, inglês ou japonês. Desiludido e revoltado decidi encetar carreira mais fácil, menos efémera e com reforma assegurada: Presidente da República de Portugal, Açores, Madeira, Macau e Timor-Leste.
Em 1990, com Juvenal Garcês e Eduardo Firmo, funda a Companhia Teatral do Chiado a propósito da qual afirma: Defendo o vedetismo. Nunca gostei de elencos por ordem alfabética, por ordem de entrada em cena. A Maria Cachucha não é a mesma coisa que a Palmira Bastos, o Zé da Esquina não é o Alves da Cunha. O público vai ao teatro para ver actores, por isso eles têm de ser valorizados.


Deixou-nos momentos inesquecíveis nas várias formas de expressão que escolheu utilizar. A Bruxa recorda um espantoso Godot (com o Santos Manuel, que vocês bem conhecem!) de que disse: Beckett salvou-me a vida!! [...] Sempre estivemos, estamos e estaremos à espera de Godot. Foi essa a opção da minha encenação: pôr todos à espera de Godot...
De cultura vastíssima e humor corrosivo, deixou-nos discos, filmes, programas de televisão para que, nós os que o conhecemos possamos mostrar-vos um pálido reflexo do que foi Mário Viegas.
NOTA: para saberem mais leiam: Um Rapaz Chamado Mário Viegas, Museu Nacional do Teatro, 2001

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