segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Dia 11 de Fevereiro...

... de 1888 inaugurou-se em Lisboa o Teatro Avenida.
"Era sábado de Carnaval e os espíritos, dipostos à chalaça e ao charivari, tornaram a récita uma verdadeira carnavalada, a despeito dos artistas que tomavam parte no espectáculo.
Abriu a récita com a conhecida comédia em 1 acto, O Tio Torquato, que foi salva pelo grande Taborda. Seguiu-se depois uma nova comédia em 3 actos, De Herodes para Pilatos, à qual nem puderam acudir o notável talento de António Pedro e a correcção de outro artista distinto, Pinto de Campos.
O teatro fora construído num terreno pertencente à esposa de João Salgado Dias. Este cavalheiro, e os srs. Alexandre Mó e Silva e Ernesto Desforges, tendo emitido certo capital em acções do valor de 10$000 [dez mil réis, muito dinheiro para a época…], levantaram a crédito outras quantias e levaram a cabo a obra. Mais tarde o teatro foi hipotecado e, a requerimento dos credores, vendido em hasta pública. […]
Os accionistas e demais credores perderam o seu dinheiro."

Assim conta Sousa Bastos a história do início do Avenida. O teatro não tinha grandes pretensões e desde logo é descrito por João Paulo Freire como um “teatro acanhado, sem segurança para o público em caso de incêndio, embora lhe tornassem obrigatória uma saída pelo portão lateral. Entalado entre prédios de diminutas dimensões, o corredor que serve o bufete e os urinóis é de tal forma acanhado que, em noites de enchente, quase se não dá um passo. Exteriormente não tem recomendação possível. Internamente, à parte os defeitos já apontados, é simples e gracioso.”
Nunca foi um teatro de continuado sucesso: situado em plena Avenida da Liberdade, Sousa Bastos diz que o público não aparecia porque o teatro “estava muito longe do centro de movimento da cidade. Na época de Inverno, a mais propícia dos teatros, o espectador precisa coragem para atravessar a Avenida, quase sempre de um desabrimento atroz, para chegar àquele teatro.” Ou seja, era o vento e o frio que, nas palavras do empresário, afastavam as pessoas dali. Hoje em dia, também será perigoso atravessar a Avenida da Liberdade. Mas por outras razões…
Enfim, as companhias sucederam-se – portugueses, espanholas, francesas – os empresários também, mas o Avenida lá foi andando: nunca com excessivo sucesso, mas foi o suficiente para se ir mantendo a trabalhar e muita gente passou por aquele palco, empenhada em muitos e variados espectáculos. Em 1964 cumpriu a sua derradeira missão ao receber a companhia Rey Colaço – Robles Monteiro, desalojada do Teatro Nacional pelo violento incêndio do dia 1 de Dezembro.
No dia 13 de Dezembro de 1967, o Teatro Avenida ardeu também, não tendo sido reconstruído.

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