quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Faz hoje 400 anos...

… que nasceu o padre António Vieira. Foi em 1606 e este padre jesuíta teve uma vida, no mínimo, animada, tendo vindo a falecer em 18 de Julho de 1697.
“Imperador da língua portuguesa” chamou-lhe Fernando Pessoa pois foi uma dos autores que com mais brilho cultivou a língua que todos (ainda) temos.
Nascido em Lisboa, muito cedo vai para o Brasil onde se ordena e, mais tarde, se torna pregador. Em 1641, veio para Lisboa onde os seus sermões foram ouvidos com atenção, interesse e, a partir de certa altura, alarme, dadas as ideias – revolucionárias, para a altura e, certamente, MUITO desconfortáveis para os poderosos da Corte – que defendia. Envolveu-se na política e na diplomacia e, em 1653, esteve na iminência de ser expulso da Companhia de Jesus. Para o evitar, regressou ao Brasil onde a sua actividade de pregador e defesa dos povos nativos lhe valeu a oposição dos colonos portugueses que conseguiram expulsá-lo do Brasil. Como não podia ficar em Portugal onde tinha arranjado sarilhos com inimigos vários, foi para Roma onde a sua actividade se centrou na defesa da primazia portuguesa no comércio com a Índia e na denúncia das práticas menos ortodoxas do Tribunal da Inquisição (que também o perseguira, há que dizer…). Em 1681 regressou de novo à Bahia, onde acabou por morrer.
Pe. António Vieira envolveu-se na política, na diplomacia, na economia, na defesa dos povos nativos do Brasil, na criação de estruturas que assegurassem o domínio português em várias partes do mundo a nível económico e diplomático. Deixou uma vastíssima obra, onde avultam os não sei quantos volumes de sermões. São muitos, acreditem!
Como afrontava os grandes deste mundo de forma desassombrada, um dia, achando que não o ouviam, resolveu seguir o exemplo de Santo António e pregar aos peixes. Talvez eles o escutassem melhor!
São desse sermão as palavras que aqui ficam.

«Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande.»

6 comentários:

Gaius disse...

"Ou o sal não salga..." Hehehehe!

A Bruxa das PAPs disse...

"O sal que salga..." é a expressão. Estou fascinada com a sua sapiência vieiriana!

Anónimo disse...

O 2º a anunciar o 5º Império :)

A Bruxa das PAPs disse...

O saber destes aprendizes é fantástico... Um dia, ainda os ponho a ler a «História do Futuro»!

Ruben Loup Chama disse...

Achei bastante interessante o li dele. Resta saber apenas o que pensava ele dos escravos que vinham de África...

A Bruxa das PAPs disse...

O Padre Antónia Vieira falou forte e feio contra a escravatura e defendeu os escravos no Brasil com grande energia. Razão pela qual teve de fugir de lá e ir para Roma: os fazendeiros não acharam graça nenhuma às ideias do senhor padre...