sexta-feira, 18 de abril de 2008

Uma mulher maltratada...

Helena Félix e Luzia Maria Martins (Lisboa, 1926) tiveram, em 1963, a ideia de fundar uma companhia de teatro profissional cujo nome acabou por ser TEATRO ESTÚDIO DE LISBOA, que veio a ocupar o espaço do Teatro Vasco Santana, em Entrecampos.
Dirigido por Luzia Maria Martins, encenadora e dramaturga de grande cultura, o TEL foi berço de uma profunda renovação do teatro em Portugal: é uma das primeiras companhias de teatro independente a trabalhar com regularidade no nosso país. O seu reportório, cuidadosamente escolhido, pretendia alertar consciências e, devido a essa manifesta intenção, a companhia teve grandes problemas com a censura. A directora era conhecida por argumentar vivamente com os censores que, apesar de todas as dificuldades, deixaram por vezes passar textos que, à partida, não esperaríamos ver autorizados, como é o caso de As mãos de Abraão Zacut, de Sttau Monteiro, que estreou em 1969. Luiz Francisco Rebello, no seu livro 100 Anos do Teatro Português, diz que ela empreendeu “um sério e sistemático esforço de actualização do repertório” para o qual traduziu abundantemente o moderno teatro inglês, tendo adaptado e escrito originais.
Durante a sua existência, o TEL pôs em cena peças originais e adaptadas de vários autores conhecidos, tais como William Shakespeare, Arnold Wesker (a primeira Cozinha foi encenada por ela), Anton Tchekhov, August Strindberg e Luís Sttau Monteiro.

A Cozinha, TEL, 1971

Como actores, trabalharam lá em diferentes épocas, grandes nomes da televisão e dos palcos nacionais – Isabel de Castro, Anna Paula, Catarina Avelar, Felipe La Féria, Irene Cruz, Isabel de Castro, João Perry, Lia Gama e Victor de Sousa entre outros.
Luzia Maria Martins fez muito da sua aprendizagem teatral em Londres. Era filha de um conhecido cenógrafo – Reinaldo Martins – e era uma excelente técnica de luzes, o que não era vulgar à época. Diz quem sabe que obteve nota máxima em técnica de luz, num dos cursos que frequentou na capital britânica. Muito exigente, fazia um aturado trabalho de mesa e experimentação a cada texto que levava à cena.
A vida não era fácil e, doze anos após a sua fundação, o TEL teve que fechar as portas. Infeliz com as dificuldades que, apesar da revolução do 25 de Abril, a vida da companhia continuava a ter de suportar, amarga e desiludida, Luzia abandonou o teatro. Veio a morrer em 14 de Setembro de 2000.
O descaso em relação a esta mulher demonstra-se pela ausência de informações sobre ela na Net e bibliografia disponível, assim como pelo estado em que o teatro onde trabalhou se encontra.

Da nossa correspondente Belchior.

2 comentários:

Andre F. disse...

Aluno da EPTC? (não pude deixar de reparar no link)
Já consegui ajuda para um trabalho neste Post, obrigado ;)

A Bruxa das PAPs disse...

Olá AF! Não me interessa se é aluno da EPTC ou não. Se o post lhe foi útil, valeu a pena!
Volte sempre!