segunda-feira, 14 de abril de 2008

Amélia Rey Colaço

Mais que uma actriz

Amélia Rey Colaço foi das maiores contribuições teatrais do séc. XX em Portugal. Tendo pai e avó ligados ao mundo das artes, (o pai, Alexandre Rey Colaço, era pianista e compositor, e a avó, Madame Reinhardt, tinha um salão literário e musical em Berlim), Amélia teve a oportunidade de lidar com fortes nomes da cultura europeia. Este facto teve uma mais-valia estrondosa no futuro da actriz.
Nasceu em Lisboa a 2 de Março de 1898. Aos 17 anos estreia-se na área da representação como protagonista na peça Marinela do autor espanhol Pérez Galdós. Em 1920 casou-se com o actor Robles Monteiro e juntos, no dia 18 de Março de 1921, criaram a companhia teatral Rey Colaço - Robles Monteiro. Foi uma importantíssima contribuição para o teatro português e a sua actividade estendeu-se entre 1921 e 1974 quando, após a revolução do 25 de Abril, teve a presciência de que a iriam classificar como símbolo do Estado Novo e decidiu retirar-se.
Entretanto, a sua vastíssima cultura marcou de forma determinante a qualidade do trabalho que foi apresentando ao público quer enquanto actriz quer, mais importante ainda, enquanto directora de companhia a encenadora. Reuniu à sua volta artistas plásticos tão importantes como Raul Lino, Almada Negreiros e Eduardo Malta e contratou actores consagrados como Ângela Pinto, Palmira Bastos, Alves de Cunha ou Vasco Santana e estreantes como João Villaret, Eunice Muñoz, Carmen Dolores, João Perry, José de Castro, Varela Silva, Ruy de Carvalho ou João Mota, para referir apenas alguns. Houve toda uma geração que passou pela escola competente da “senhora D. Amélia”, como era conhecida.


A sua companhia levou ao conhecimento do público português autores como Gil Vicente, Alfredo Cortez, José Régio, Arthur Miller, Jean Anouilh, Frederico Garcia Lorca, Pirandello ou Shakespeare. Foi dos clássicos ao contemporâneo, tendo estabelecido um reportório vasto e variado, que incluía muitos dos mais importantes dramaturgos.
Apesar de Portugal viver em ditadura, Amélia Rey Colaço conseguiu dar a conhecer peças importantíssimas como A Casa de Bernarda Alba, de Frederico Garcia Lorca, Salomé de Oscar Wilde ou A Visita da Velha Senhora de Durrenmatt. Contudo, a censura de Salazar não lhe permitiu encenar Bertolt Brecht. No entanto, mantinha relações cordiais com o ditador: as discussões e duelos entre os dois a propósito da sua escolha de textos a levar à cena ficaram célebres.
Para além de actriz, Amélia Rey Colaço foi encenadora, (Sonho de Uma Noite de Verão; Antígona; As Bruxas de Salém), directora, (Electra e os Fantasmas), criadora, (Saias), cenógrafa, (Asas Quebradas), decoradora de espaço, (É preciso viver!; Leonor Telles), figurinista, (Castro; Leonor Telles), luminotécnica, (Castro), e ensaiou A Casa de Bernarda Alba. Geriu, também, o Teatro Nacional D. Maria II até 1966, tendo sido vítima do incêndio do teatro D. Maria II primeiro e Avenida, uns anos mais tarde. A última peça que a companhia apresentou foi Sábado, Domingo e Segunda, de Eduardo de Filippo.
Até ao encerramento da sua companhia em 1974, Amélia Rey Colaço trabalhou com mais três companhias: Companhia de Comédia do Teatro Ginásio, Sociedade Artística [companhia residente do Teatro Nacional D. Maria II] e TEC – Teatro Experimental de Cascais, a quem deu uma ajuda no início do trabalho da companhia.
Foi galardoada com distinção pelo governo francês com as insígnias de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras, para além das comendas da Ordem de Instrução Pública, da Ordem de Santiago e da Ordem de Cristo.
Amélia Rey Colaço morreu em Lisboa em 8 de Julho de 1990. É de salientar a imensa contribuição que esta senhora do teatro teve para Portugal: difundiu peças e autores; foi pioneira a encenar peças nunca antes encenadas em Portugal. Por isso, não foi de espantar que a primeira exposição que o então novo Museu do Teatro apresentou em 1987 tenha sido dedicada à actividade deste casal e da companhia que fundaram e dirigiram.



Vão aqui aprender mais algumas coisas diferentes acerca de Amélia Rey Colaço.


Da nossa correspondente Devil's Little Sister.

2 comentários:

Anónimo disse...

optimo texto...grande senhora do teatro...tenho umas historias muito engraçadas da senhora dona amélia muito engraçadas, contadas por um ex mestre desta escola....



Ricardo F

A Bruxa das PAPs disse...

Venham de lá essas histórias! Se é que se podem contar...