sexta-feira, 18 de abril de 2008

Falar ou cantar?

João Henrique Pereira Villaret nasceu a 10 de Maio de 1913 em Lisboa.
Foi actor de teatro e de cinema, encenador e também apresentou programas de televisão, mas é principalmente pela maneira como recitava poesia que é recordado. Depois de frequentar o Conservatório Nacional, que concluiu sem grandes notas, começou por se juntar à companhia de teatro Rey Colaço-Robles Monteiro e, mais tarde, fez parte da companhia teatral Os Comediantes de Lisboa, dirigida por Ribeirinho, onde alcançou grandes sucessos com peças como Miss Bá, Pigmaleão e Bâton, entre outras..
Da sua passagem pelo Teatro Nacional, que, na altura, se chamava Teatro de Almeida Garrett, conta-se uma história engraçada. Um dia, andava ele às voltas com um pequeno papel a que não sabia que volta dar, Adelina Abranches que, perto, fazia tricot e o ouviu lamentar-se, ter-lhe-á dito:
“Na sua idade e com o tempo de teatro que tem, não se dá feitio aos papéis: vai-se mal!” Ela lá sabia…
Villaret fez muitas revistas carnavalescas no Nacional, prática comum em todos os teatros da altura. Teve grande sucesso e cedo se destacou pela forma como dizia poesia. Em solos extraordinários divulgou muitos poetas junto de camadas de público que, por regra, teriam pouco acesso à poesia.

Villaret, diz Mário Jacques, afirmava de si próprio ser um actor de emoção pura, que muitas vezes acabava os espectáculos emocionalmente arrasado: “Empresto a minha alma à da personagem, tal como a imagino, e vivo integralmente os seus problemas”.
Em 1943, representa no D. Maria Electra e os Fantasmas de O’Neil, um dos papéis que mais marca deixou.
O grande momento da sua carreira de actor terá sido obra do acaso. Um dia, em 1954, rouco, vai a um otorrinolaringologista que lhe mostra uma peça que tinha escrito. Villaret entusiasma-se com o monólogo e, após cinco meses de trabalho, apresenta em palco, no antigo Teatro Avenida, as três personagens de diferentes nacionalidades da peça Esta Noite Choveu Prata de Pedro Block.
No cinema, João Villaret participou no filme O Pai Tirano (1941), onde interpretava o papel de um pedinte mudo. Mais tarde entra também em Inês de Castro (1944), em Camões (1946), em Frei Luís de Sousa - fazia de Telmo Pais - (1950) e em O Primo Basílio (1959).
Na televisão, João Villaret teve um programa aos domingos onde declamava poesia nacional e isto serviu para dar a conhecer os poetas portugueses ao povo português. Principal- mente Fernando Pessoa de quem era um grande admirador.
Apesar de não cantar, João Villaret venceu ainda na música e, em conjunto com Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, deu origem a Fado Falado, criação que se tornou um clássico depois de ter sido apresentada na revista ‘tá bem ou não ‘tá? Está aqui, vão ouvi-la. Villaret gravou ainda mais "canções faladas" de que são exemplos Procissão e O Menino de sua Mãe.
João Villaret morreu, aos 48 anos, em 21 de Janeiro de 1961, devido aos diabetes de que sofria.

Quando, em 1965, Raul Solnado decidiu abrir o seu teatro na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, escolheu homenagear João Villaret. Da companhia que então se reuniu, faziam parte actores como José de Castro ou Eunice Muñoz.

http://jvillaret.com.sapo.pt/
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Do nosso correspondente Pedro.

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