
Carlos Daniel, louro e esbelto, face magra, expressiva, rosto inteligente, tinha uma certa aristocracia na atitude e no gesto, que, à partida, lhe abria as portas de qualquer palco. Com trabalho, dedicação, disciplina, com o seu enorme amor pelo teatro, e talento também provou que a beleza não tem de ser um espelho de uma pessoa superficial, tornando-se num actor admirável. Estreou-se como profissional no Teatro Experimental de Cascais, em Fuenteovejuna (23 de Abril de 1973), com encenação de Carlos Avilez. O 25 de Abril de 1974, acaba por libertar Carlos Daniel da necessidade de participar na guerra colonial que não estava disposto aceitar. Juntamente com outros colegas funda o Teatro de Animação de Setúbal.
A reabertura do Teatro D. Maria II em 1978, catorze anos após o incêndio que o destruíra quase por completo, permite-lhe a estabilidade que necessita. É no D. Maria que tem a possibilidade de representar D. Juan de Molière, dirigido pelo francês Jean-Marie Villegier. Mais tarde é convidado pelo mesmo dirigente, a representar em francês, na Comédie de Caen Les Galanteries do Duc d’Ossone, de Jean de Mairet. Esta oportunidade abre-lhe as portas para uma carreira internacional, que se prolonga pela televisão. Acabava por voltar sempre a Portugal pela saudade, e um dia, sozinho, é apanhado por um estúpido ataque cardíaco fulminante no dia 9 de Abril de 1996.

Do nosso correspondente Diogo.
A Bruxa gostaria de contar aqui algo do que foi o seu convívio com o Carlos Daniel.

Anos mais tarde, a Bruxa voltou a trabalhar com o Carlos Daniel: já não era um príncipe então, mas um aristocrata inglês vitoriano. E, em 1995, a propósito de uma outra peça de Shakespeare, a Bruxa recorda muitos ensaios trabalhosos e atarefados mas, acima de tudo, dois momentos: uma tarde às voltas com uma única fala do rei, difícil de traduzir e a que o Carlos emprestou voz e fôlego para a Bruxa-tradutora conseguir chegar a um resultado que nos agradasse aos dois, e uma noite passada no gabinete do director do teatro a ensaiar a cena da morte de Ricardo II. Eram 4 da manhã quando, trôpegos e cansadíssimos, pedimos ao segurança que nos abrisse as portas da rua para podermos ir para casa.
Com o Carlos Daniel aprendi a vontade e determinação de experimentar uma vez e outra ainda, a humildade de tentar, errar e voltar a tentar, e admirei a perseverança e o imenso rigor no trabalho. Assisti a muitas horas de esforços durante os três espectáculos em que trabalhei com ele, sempre com resultados, sempre com desejo e determinação de dar a cada espectáculo o melhor que tinha para oferecer.
13 comentários:
Mas que texto senhor diogo, e dona bruxa ...sim senhor ...assim a continuar ainda vamos para o guiness..boa sim senhor .....cumprimentos infernais.....Ricardo F
Guiness? Porquê? Perdi-me... é do sono!
guiness pela quantidade de posts bons..hahahahha
Gostei muito de ler os dois textos *
concordo com wiylo...
é extremamente curioso e encantador que liga uma biografia (que eleva) e uma experiencia pessoal (que o humaniza e aproxima)
gostei!muito mesmo, também por ser quem é. ")
beijinhos
D.recibos
Obrigada.
Muito obrigada pela homenagem!É com muito orgulho e saudade que vejo que a memória do meu tio ainda perdura!
O convívio com o Carlos Daniel foi inesquecível... e é com muito prazer que recebo a visita de uma... sobrinha? Muito obrigada!
E bom saber que uma pessoa tao "bonita" nao foi esquecida por este mundo louco de hoje. Ainda custa acreditar que ele nao esta entre nos.
Estava numa pesquisa acerca do meu padrinho, um pouco de saudade, um tanto de orgulho e deparo-me com este texto.
É bom ver que ainda existe pessoas que não o esquecem... Um ser lindo, um actor fantástico! Obrigada pela lembrança magnifica e que me fez sorrir!
Rita Taveira
Rita, obrigada pelo seu comentário. Esquecer o Carlos? Dificilmente, foram experiências muito marcantes...
Ainda bem que lhe provocámos um sorriso!
O Carlos era um amigo do coração. Saudades tenho eu. Não existe actor como ele e que falta nos faz. E que falta me faz...e a todos os seus amigos. Recordo bem a estima que tinha pela sua sobrinha, talvez a relação familiar que mais sentia...Agradeço que tenham postado estas memorias. Fez-me muito bem. PS: Será que é possível conseguir que o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian publique a gravação do Hamlet?? Ninguem mais vai conseguir faze-lo como ele...e o Ricardo II? tenho partes gravadas felizmente...D João, claro que tenho. E da sua ultima peça, O Ensaio levado á cena no teatro aberto, gravei, mas alguem ficou com a minha cassete...pena, pois foi espantoso (como sempre)!
E uma pena que nao haja mais fotos no google eu sou imigrante e nao me encontrava em Portugal a muitos anos, um dias destes fui rever as novelas Portuguesas e vi entao Que Carlos Daniel tinha falecido. Que pena...Hoje Portugal sao quase so caras novas e cantores honestamente so uma familia, para ser honesta nao me vejo a voltar para um Pais que ja nao conheco... Muito obrigado pelo tempo quedidicou a fazer esta homenagem aCarlos Daniel eu amirava- o imenso...
Enviar um comentário