segunda-feira, 21 de abril de 2008

Filho de peixe, sabe nadar...

Em Lisboa, a 18 de Abril 1842 nascia João Rosa, numa família que viria a ser destacada como uma das mais notáveis famílias de artistas do teatro português. Em jeito de confirmar o provérbio – "quem sai aos seus não degenera" – pai e filhos, João Rosa e Augusto Rosa, foram todos ilustres actores.
Pai e filho partilhavam o mesmo nome – João Anastácio Rosa – sendo que ao filho foi atribuída a designação de Rosa Júnior. Pouco durou, no entanto, tal epíteto pois que cedo passou a ser conhecido simplesmente como João Rosa, recaindo sobre o seu pai a designação de Rosa Pai.
João Rosa sofreu a desventura de ser matriculado na Academia de Belas Artes, mesmo tendo, desde cedo, exprimido o seu desejo de representar. Caíra o seu pai no mesmo equívoco do seu avô, que quis orientar o Rosa Pai contra vontade para a Medicina. O destino desta gente era a arte de representar! Assim, inevitavelmente, aos 22 anos, João Rosa apresenta-se ao público pela primeira vez e ao lado do seu pai, no Porto, na comédia de César de Lacerda - As Jóias de Família. Esta seria então a primeira peça de tantas outras que o tornaram o actor mais célebre da sua época, tido como um homem elegante e sedutor, um verdadeiro galanteador nos palcos portugueses. Do Porto seguiu para Lisboa para o Teatro S. Carlos, o Teatro D. Maria, o Ginásio, o Teatro da Trindade, o Teatro do Príncipe Real… sempre com o mais feliz êxito e com um trabalho digno da maior admiração em cada papel.
O Teatro D. Maria II foi, durante um largo período, gerido por sociedades de artistas que se habilitavam à sua gestão por concurso. Assim, em 1880, a exploração do teatro nacional foi atribuída à Sociedade de Artistas Dramáticos, composta por João Rosa, Eduardo Brazão, Augusto Rosa, Virgínia, Rosa Damasceno, Pinto de Campos, Emília dos Anjos, Emília Cândida e Joaquim de Almeida. Grupo ao qual se juntaram no ano seguinte Gertrudes Rita da Silva e Amélia da Silveira. Em 1892, devido a desentendimentos internos, há uma desagregação da sociedade, passando no ano seguinte João Rosa, Augusto Rosa e Eduardo Brazão a serem os únicos societários. Deste modo nasce a companhia Rosas & Brazão, que é tida como uma das mais célebres e prestigiadas companhias da história do teatro português. Manteve-se até 1898, data em que houve uma cisão da companhia e os seus titulares foram contratados para o Teatro D. Amélia.
Foram dezoito anos de João Rosa passados no Teatro Nacional, pertencentes a uma das suas épocas mais notáveis, com inúmeras, brilhantíssimas e geniais criações e desempenhos.
Foi um ilustre professor do Conservatório Nacional, distinguido como actor de primeira classe e condecorado com a comenda da Ordem de Santiago da Espada (1), tendo passado a ser conhecido como o Mestre João. Pelos seus relevantes serviços prestados ao teatro português, foi-lhe ainda concedida a reforma.
João Rosa surpreendido por uma terrível doença, que começou a enfraquecê-lo e a deixar marcas como lapsos de memória, problemas de dicção e envelhecimento precoce, foi forçado a afastar-se do palco e consequentemente do público que guardou a sua imagem com tal saudade que, num espectáculo realizado em seu benefício (promovido pela Associação de Classe dos Artistas Dramáticos em 1909), ao vê-lo, repleto de admiração, o público estremeceu e num movimento unânime ergueu-se e fez-lhe a mais carinhosa aclamação. Esta foi a última recordação que o público pôde guardar deste esplêndido ser humano, pois no ano seguinte, no dia 15 de Março de 1910, João Rosa deixou o nosso mundo, permanecendo, irrefutavelmente, na memória de quem o conheceu.
João Rosa era um homem de muita dedicação, simples, sensato, possuidor de um coração impregnado das mais altas virtudes: bondade, amabilidade, generosidade… Pouco estudioso mas bastante intuitivo e inteligente, foi um artista prestigioso, imponente e sedutor, um verdadeiro galã que desencadeou delírios e paixões entre o público. Para António de Sousa Bastos (2), muitos se puderam distanciar pelas suas qualidades podendo ser classificados como os bons do teatro, tantos e tantos, mas sobre todos, João Rosa.


Prato-homenagem ao actor João Rosa, pertencente à colecção do MNT.



(1) Mais informações sobre a Ordem de Santiago da Espada: http://www.ordens.presidencia.pt/ordem_militar_santiago.htm
(2) BASTOS, Sousa – Recordações de Teatro. Lisboa: Editorial Século, 1947.

Existe em Lisboa uma rua com o nome deste actor, mas as fotografias não chegaram. A Bruxa promete que, assim que a nossa correspondente lhas enviar, ela afixa-as aqui.

Cá estão elas...




Da nossa correspondente 7.

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