terça-feira, 18 de março de 2008

O segundo pai do teatro português

Almeida Garrett é uma das grandes figuras da literatura portugue- sa, um autor muito completo que inovou e deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa. Foi pioneiro do Romantismo em Portugal, segundo pai do teatro português, criador do lirismo moderno, criador da prosa moderna, orador e dramaturgo. Teve ainda uma importante actividade como jornalista e ensaísta e foi uma figura de destaque da política nacional do século XIX.
Nasceu no Porto no dia 4 de Fevereiro de 1799, no seio de uma família burguesa com tradição comercial e proprietária de terras em Gaia e nas ilhas açorianas. Recebeu desde criança uma sólida formação moral, cívica, religiosa e escolar.
Em 1808, na sequência das invasões francesas, a família refugia-se nos Açores, onde inicia a aprendizagem do latim, do grego, da retórica e da filosofia, sob orientação do tio paterno D. Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Angra, homem de vasta cultura e ele próprio escritor. Com ele, sobretudo, adquiriu uma sólida formação literária e teve contacto com os ideais de Voltaire e Rousseau, que lhe ensinaram o valor da liberdade numa educação clássica e iluminista.
Com 17 anos, regressa a Portugal e ingressa na Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, onde se tornou um forte adepto do liberalismo por influência dos ideais da Revolução Francesa. Pelo seu papel activo nas lutas liberais, num período de instabilidade, por duas vezes foi forçado ao exílio. Primeiro em Inglaterra e depois em França, contactou com a literatura estrangeira e com o movimento romântico, que começava a ganhar força na Europa.

Na literatura é tido como o introdutor do Romantismo em Portugal, processo que iniciou com o poema Camões (1825), e como fundador dos alicerces do romance moderno português, com uma linguagem mais próxima da oralidade, a criação de diálogos virtuais com o leitor, a exaltação da liberdade e do nacionalismo e a denúncia dos problemas sociais.
Aderiu ao Romantismo principalmente enquanto afirmação plena do individual e da liberdade de criação. Por isso troçou tanto das regras clássicas como românticas, e mistura nas suas obras vários géneros e estilos literários. Garrett é um homem situado entre dois mundos: por um lado o iluminismo e o neoclassicismo, por outro o romantismo, o que levou a tensões entre o sentimento e a razão, o particular e o universal, a tradição e o progresso. Em todos os domínios teve uma atitude de meio-termo exemplar: equilíbrio na política, entre liberdade e ordem, renovação e tradição; equilíbrio na cultura, entre o popular e a erudição, entre nacionalizar e abrir Portugal à cultura europeia, entre idealismo e atenção ao real, entre espontaneidade e apuro estético.
Enquanto político é de destacar o seu papel como inspector-geral dos teatros, uma espécie de ministro do teatro encarregue de reorganizar o teatro em Portugal. Garrett tomou três medidas fundamentais para esse fim: elaborou o projecto para a construção de um teatro nacional (D. Maria II), criou um Conservatório de Arte Dramática e organizou concursos literários como incentivo à escrita teatral.
Garrett contribuiu ainda com todo o seu reportório dramático, marcado por privilegiar a história nacional (salientando-se a sua obra-prima Frei Luís de Sousa, 1843). Mas foi com Um auto de Gil Vicente (1838) que Garrett ressuscitou o teatro português. Uma peça emblemática de um novo teatro em Portugal, que pega na figura mítica de Gil Vicente em jeito de homenagem ao pai do teatro português. Uma característica muito importante desta peça, que se alargou a todas as peças futuras, é o historicismo de Garrett, um aspecto fundamental de todo o teatro português do século XIX. O historicismo de Garrett teve tal influência, que fez surgir uma moda que gerou centenas de dramaturgos pós-garrettianos. Foi assim, justamente considerado o 2º pai do teatro português.
Garrett... para quem o teatro era “o livro dos que não têm livros”, “uma verdadeira biblioteca popular, que deve ser feita com mais escrupulosa selecção do que qualquer outra, porque tem mais leitores e em geral menos instruídos”, queria que o teatro fosse “o grande meio de civilização”.
Morre em Lisboa aos 55 anos, mas pelo seu génio, pelas inovações que trouxe e que abriram novos rumos aos autores que se lhe seguiram, conservará para sempre o seu lugar na história da literatura portuguesa.



Da nossa empenhada correspondente

6 comentários:

Anónimo disse...

A peça "Um Auto de Gil Vicente" é do ano de 1838 e não de 1938, como seria de esperar dado que o senhor Garrett morreu em 1854. Peço desculpa pelo descuido.

A Bruxa das PAPs disse...

Vocência manda! Já está...

Gaius disse...

Que interessante este post! Só não percebi bem, devido ao som da televisão, se ele foi só o primeiro ou o 1º e o 2º pai do teatro português..

A Bruxa das PAPs disse...

Não percebo o que é que o som da televisão tem a ver com a leitura do Inferno, mas OK. Quem sou eu para estranhar?
Tem dúvidas quanto à posição numérica da paternidade de Garrett? Então e o Gil Vicente, Imperador? O que é que você andou a fazer no ano passado? Ai, ai, que eu arranjo lousas novas e você vai com elas às costas até ao Guincho!

Anónimo disse...

Guincho, Guincho, eu não me esqueci! Hehehe! Ora bem, quando temos uma televisão ligada e estamos a fazer duas coisas ao mesmo tempo, a nossa concentração diminui. E o Gil Vicente... Esqueci-me deste senhor!

Gaius

A Bruxa das PAPs disse...

Nem comento...