terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Almas do outro mundo

As «almas do outro mundo», também ditos vulgarmente «fantasmas» ou «almas penadas», constituem uma das superstições mais antigas dos seres humanos. As mulheres mortas durante o parto são algumas dessas «almas» que 'aparecem' frequentemente, quase sempre para roubarem as crianças das outras, suspendendo-as pelo pescoço e deixando-lhes marcas negras. Em zonas da Itália, para evitar os males que elas possam causar, deixa-se um balde de água à porta - os fantasmas causariam grandes desgraças se não tivessem água para beber. Fazem parte do folclore das casas assombradas e das histórias fantásticas e de terror. Na China, estes espíritos dos mortos são demónios que só se temem se não pertencerem aos defuntos da família. Os outros provocam infortúnios se não se lhes dá comida, são «demónios esfomeados». Entre os países anglo-saxónicos é conhecido o fenómeno do poltergeist, um fantasma que ataca e causa enormes prejuízos. Contra estas aparições diz-se que só um ramo de milefólio e urtigas colhidos durante o mês de Agosto os pode afastar. Estas crenças começam a desaparecer, desde que a Igreja deixou de as apoiar em textos santos de outrora - as grandes lajes de pedra com que se tapavam os mortos nas igrejas tinham também como propósito evitar a saída das almas dos túmulos. Diz-se que toda a pessoa que não morre de morte natural e que não é enterrada em campo santo, andará a penar até encontrar uma pessoa que lhe satisfaça o que no mundo não pôde cumprir.
Orlando Neves, Dicionário de Superstições, 2005

Jardim em Jakarta

8 comentários:

Anónimo disse...

Fez-me lembrar aquela serie que está muito na "moda" entre vidas!

(apeteceu-me bombardear com comentários :x )

Rita

A Bruxa das PAPs disse...

Ora então, amiga, por quem é! Bombardeie à sua vontade! É para isso que aqui estamos...
Beijinhos

Anónimo disse...

Eu tenho medo dessas coisas .. ainda nao percebi bem porquê , mas tenho .. =S

Anónimo disse...

HuUuUuU!O invisível é sempre assustador e quanto mais medo temos mais real ele se torna para nós!

HuUuUôÔ...

Anónimo disse...

parte final, fes-me lembrar, que os gregos tambem eram indenticos....
por alguma razao é!
nao é senhora bruxa?

A Bruxa das PAPs disse...

Por acaso, não tenho muito essa ideia: para os gregos, a morte era o fim. Há claro, excepções que os mitos contam em que vivos vão ao Hades recuperar almas (Orfeu) ou vivos raptados(Demeter) mas reconhecem sempre a extrema perigosidade do feito. É verdade que os gregos temiam o regresso das almas que, por não conseguirem pagar ao barqueiro Caronte o transporte para o Hades, se viam abandonadas eternamente nas margens do Letes, mas não me parece que haja muitas histórias de fantasmas ou o seu equivalente grego.
A vida para além da morte, para os gregos é isto:
«Antologia Palatina», VII. 715“Repouso longe da terra de Itália e da minha pátria, Tarento; para mim isso é mais amargo do que a morte. Isto é a vida insuportável dos que erram; mas as Musas amaram-me e, em vez de sofrimentos, tenho uma doçura de mel. O nome de Leónidas não desapareceu; os dons das Musas proclamam-no todos os dias.”
Eurípides, «Ifigénia em Áulis», 1249-1252 (Ifigénia):
“Resumindo tudo numa palavra, vencerei: para os homens, ver esta luz é muito doce; lá em baixo não há nada. Delira aquele que deseja morrer! Viver miseravelmente é melhor do que morrer com glória!”
A Bruxa promete ir estudar o caso e, a devido tempo, publicará aqui algumas notas sobre o assunto.

NOTA FINAL: "fez-me", "também", "idênticos", "razão" e "não". Beijinhos

Anónimo disse...

pensei que para os gregos, a morte nao era o fim mas sim a passagem para outro mundo...alias se bem me lembro nao é o rei edipo que se céga, para nao ver os país no hades?
ou seija, parece-me a mim que para eles a vida continuava...
para os gregos era muito importante o ritual, funebre...por exemplo quando aquiles vence heitor, e priamo rei de troia vai- lhe pedir o corpo do seu filho.
a eneida de vergílio, em que um camarada pede a eneida que fisse-se rituais funebres, porque tinha caido ao mar....
é interssante que até o próprio pai do hamlet só consegue o descanso enterno depois de o filho se vingar.
no nosso tempo ainda existe muito "o culto dos mortos"

A Bruxa das PAPs disse...

OK, Farraia, quando eu disse que era o fim estava a referir-me que eles não voltam para atormentar os vivos. Era disso que o post tratava... É verdade que a morte era uma passagem para outro mundo, daí a necessidade dos ritos fúnebres. Mas, em princípio e por regra, não voltavam ao mundo dos vivos para os atormentar. Já o caso do rei Hamlet é muito diferente: esse já está inserido na tradição do morto que não descansa antes de ter sido vingado. Mas isso é outra história.
Como outra história é o seu texto. Ora vá lá à sua caixa do correio ver o que lhe vou mandar...