sábado, 26 de janeiro de 2008

26 de Janeiro

… de 1800

Nasce em Lisboa António Feliciano de Castilho, depois Visconde de Castilho. Castilho era cego, mas isso não o impediu de deixar obra vasta e variada, tendo-se envolvido em polémicas várias com os autores do seu tempo. Foi autor de um método para aprender a ler e de uma obra de divertido título: Tratado de versificação portuguesa para em pouco tempo e até sem mestre se aprender a fazer versos de todas as medidas e composições (1851). Oram digam-me lá se não seria utilíssima! Mas vamo-nos concentrar no teatro. Foi membro do Conservatório Real e escreveu, entre outros: Camões, drama em verso, sobre outro francês [vulgo, tradução/adaptação]; O Tejo e Liberdade, elogios dramáticos; Adriana Lecouvreur, ópera em 4 actos, traduzida do italiano; O Avarento, O Médico à Força, O Doente de Cisma, As Sabichonas e O Tartufo, tradução de Molière. Também pegou em Shakespeare, de quem trabalhou Midsummer Night’s Dream a que chamou Sonho de uma noite de S. João. O próprio Castilho fala desta tradução/versão explicando por que razão usou a referência a S. João no título da peça em vez de, como o tradutor francês anterior a ele, usar a palavra “Estio” (vão ver ao dicionário!).

Castilho afirmou ainda estar a preparar um Rei Lear, que acabou por nunca ver a luz do dia.
Há que acrescentar que, na altura em que este autor escreveu, os critérios de tradução não eram os que agora nos orientam: os tradutores (?) tinham por hábito, mais do que traduzir, adaptar o texto de acordo com o gosto do tempo e do país para o qual trabalhavam. A noção de fidelidade – discutível, eu sei! – que hoje nos norteia, não existia e faziam todas as alterações que achassem necessárias, afastando-se, por vezes, para muito longe do texto original. Foi o caso do Visconde de Castilho.
A peça de Shakespeare está publicada naquela colecção de que o meu colega das artes dramatúrgicas tem tão boa memória: a Lello (lembram-se da livraria?), dos inefáveis Domingos Ramos e Henrique Braga. Vão ler, que é divertido!

NOTA: António José Saraiva, ao contrário de Sousa Bastos que foi a fonte utilizada pela Bruxa, afirma que Castilho nasceu no dia 21 de Janeiro. Não faz mal: fica hoje a evocação.

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