quinta-feira, 22 de maio de 2008

Nenhum homem é uma ilha...

"Toda a humanidade provém de um autor e é um corpo só; quando morre um homem, não é um capítulo que se rasga de um livro, antes se traduz em melhor linguagem; e todos os capítulos devem ser traduzidos desta forma… Tal como quando o sino toca a chamar ao sermão, não só toca a chamar o pregador como também apela à congregação para que venha. Este sino chama-nos a todos, e em especial a mim que me vejo trazido tão perto desta porta pela doença… Nenhum homem é uma ilha, inteiro por si só… a morte de qualquer homem diminui-me, porque faço parto da humanidade. Por isso, não perguntes nunca por quem os sinos dobram: dobram por ti."
Isto foi escrito por John Donne, um poeta inglês do séc. XVII.
E como as promessas são para se cumprir, aqui fica então a minha carta:
"Ao longo dos anos, tenho vindo a assistir com preocupação a escolhas de temas e de perspectivas de trabalho que considero desadequadas à faixa etária dos alunos da escola. Não me cabendo a responsabilidade dessas escolhas nem tendo qualquer possibilidade de participar nelas, restou-me, em variadas ocasiões, quer directamente com o C. A. [*], quer em reuniões de professores, a alternativa de mostrar o meu desagrado e preocupação.
Este ano, com a escolha de O Inferno, de Bernardo Santareno, para prova final, ultrapassou-se uma barreira que não estou disposta a ultrapassar. Por isso, venho pela presente manifestar a vontade de fazer cessar o contrato de prestação de serviços que mantenho com V. Exas."
[*] Não publico nomes na Net sem autorização dos próprios.

17 comentários:

joaofarraia disse...

oi!
Maria João, nao querendo ser interseiro:), mas lembrei-me.....sempre vai dar prémios dos passatempos do blog?
beijinho

A Bruxa das PAPs disse...

Oi, João Farraia!
Lamento, mas "interseiro" não sei o que é. Mas sim, estou a pensar publicar mais um ou dois desafios e, no fim, distribuir prémios aos mais valorosos...

Anónimo disse...

De que barreiras fala? A Arte tem assim tantas barreiras?
Quem perde somos todos nós porque não teremos a sua contra-argumentação que tanto nos enriquece. Não somos de uma "faixa etária" imberbe nem os nossos professores são professores do secundário. Agradeço todas as oportunidades que me foram dadas para trabalhar todos os papéis e os autores que me abriram um mundo que com esta idade nunca alcançaria.
Acabou assim uma disciplina e uma relação de trabalho. Os sinos dobram.

A Bruxa das PAPs disse...

Nunca me passou pela cabeça considerar os meus futuros ex-alunos como "imberbes" - no sentido em que o diz, claro! - mas, na realidade, a maior parte de vocês ainda não é adulta. É um facto, certo? Além de que, mesmo adultos, há tempos e contextos para tudo. Não vou discutir isso aqui.
Ninguém tem mais pena do que eu de que percam a minha "contra-argumentação", mas eu quero viver com a minha consciência em paz...

P.S. - Sinceramente, não percebo a sanha que têm contra o secundário: vocês são alunos do mesmo nível, só que têm um tipo de ensino diferente. E há vários professores vossos que sim, são do secundário. Por acaso, eu nunca fui e não me passa pela cabeça desrespeitá-los! Qual é o insulto ou desconsideração? Não percebo...

A Bruxa das PAPs disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A Bruxa das PAPs disse...

Ah! É verdade! A Arte pode não ter barreiras, mas a função/papel de educadores numa escola tem... pelo menos tem limites e conceitos orientadores de referência.

Anónimo disse...

"A Arte pode não ter barreiras, mas a função/papel de educadores numa escola tem..."
Sim tem barreiras, uma delas pode ser a da falta de horizontes. Somos alunos do secundário mas de um curso profissional e não me queixo do que vivi e acredite que conseguimos viver com a consciência em paz.
O que é isso de ser Adulto? É bem verdade a maior parte de nós não é mesmo Adulta. É um facto, certo?
Pelo respeito que me merece, também eu encerro aqui um capítulo da minha vida pois tudo tem um fim.
Onde quer que vá seja sempre a mulher de valor que neste momento não acredita na força que tem.
Terei todo o gosto em vê-la sempre na plateia.

A Bruxa das PAPs disse...

Anónimo que não sei quem é...
Como sempre disse, estarei o mais que puder do lado dos meus ex-alunos: podem contar com isso. E a plateia será uma das possíbilidades. Não desta vez, mas sempre que for possível a partir de Agosto. Só têm de me avisar com tempo.
Já quanto à falta de horizontes, não posso estar mais de acordo consigo: é uma barreira inultrapassável que a educação/formação não deve deixar que se erga. A ideia da educação é alargar horizontes, não fechá-los.
Já agora... gostava de saber quem é: estou em desvantagem...

Balbino disse...

Percebo tão bem os alunos e os professores. Há uma propaganda feita na Escola com uma visão elitista de Ensino e objectivos. Isso é porque os professores que lá andam gostam muito do que fazem e têm um amor que queres espalhar às gerações vindouras.

Mas todos os que se formam em outras escolas, também são seres pensantes e estudaram coisas que nós não. Só por isso, completamo-nos e não os podemos menosprezar. Que seria de nós sem o Pão da dona Maria?

Somos gente de Teatro e, cá fora, não somos deuses. Nunca fomos.

Anónimo disse...

a verdade é que a Maria João retirou-se de cabeça erguida e sem nenhum peso na consciência, isso sim é de louvar!
existem alturas em que a retirada é a decisão mais concreta, principalmente quando se sabe que "o barco está quase a afundar" digo isto porque realmente sei do que estou a falar, e é triste que as pessoas nao se apercebam disso e continuem a acreditar em algo que já não é possível.
tenho pena, são muitas as pessoas que passam por lá e são poucas as que se conseguem abstrair do que se passa, talvez possa dizer "se não podes com eles, junta-te a eles", acho que é isso que acontece!
um beijo muito grande de uma admiradora sua...

A Bruxa das PAPs disse...

Eu gostava muito de saber quem é... podíamos conversar...
Beijinhos

Sofia disse...

Bom, aproveito esta maré de comentários para "informar" que, ao contrário do que muitas cabeças já me vieram perguntar, não sou eu que estou a fazer estes comentários.´
Não queria comentar isto, porque não me faz muito sentido, mas já que não foi nem uma, nem duas pessoas que me perguntaram isto, mas mais de seis, sete, oito, achei por bem fazê-lo, até porque, muito provavelmente, a MJ pode achar o mesmo e não quero ficar com os louros dos elogios que os outros tecem.

Beijinho.

A Bruxa das PAPs disse...

Céus! Mas que explicação tão complicada! Eu estou a perguntar na boa. Não faço a mínima ideia de quem seja o/a autor/a dos comentários e por várias razões, gostava de saber... Nem adianto hipóteses! POr amor dos deuses, não me comecem agora todos a dizer "eu não fui". Eu gostava mesmo de saber quem foi. Quem não foi, pode viver descansado/a. Como também já disse em tempos, eu não revelo nomes se a pessoa em causa não o desejar: a informação é para mim e só para mim. "Mainada", como diria o Ricardo Araújo Pereira no livro que dedicou ao seu amado Glorioso...
Beijinhos a todos!

Anónimo disse...

Nunca nos abandonará, acredite. A forma como todos estamos a lidar com a situação deverá deixá-la cheia de orgulho. Olhe que temos sido bem adultos pois sabemos ser imparciais numa época confusa. Imparciais não será o termo, mas ninguém está a dar de comer aquilo que poderia ser a discórdia e isso orgulha-me, orgulha-nos e orgulha-a a si.
Não somos um, dois , ou três. Acredite que podemos ser "fiéis" a mais que um amo. Disseram aqui "se não podes com eles, junta-te a eles", mas não tem de ser assim e seguramente não é assim.
Paira no ar a suspeita de que algo está podre no Reino da Dinamarca, de que "o barco se está a afundar", sim temos tidos baixas mas o que há mais para além das estrelas que a nossa imaginação não está a alcançar? Somos todos tão pequeninos e tudo é tão pequenino.
Todos queremos viver com o sabor, ainda que breve, da felicidade e desse propósito não se deve abdicar e "o caminho é sempre em frente".
Haja com a ponderação que lhe conhecemos e que esperamos de si.
Um Beijo.
O Anonimato não é vil, acredite.

A Bruxa das PAPs disse...

Vejamos... por estranho que vos possa parecer - e independentemente do que vos disserem - eu não estou a abandonar ninguém. Estarei convosco de outra maneira. E não vou a lado nenhum. Todos têm os meus contactos, e quem foi meu aluno sabe que pode SEMPRE contar comigo. Só têm de me dizer e assim eu possa...
Orgulho dos aprendizes? É claro que tenho! Tenho orgulho de gente que vai enfrentar esse Inferno e que vai lutar pelo seu lugar. Por muito que me doa e ache injusto que o lugar seja esse e não outro. Mas, como diziam os antigos: o que não me mata torna-me mais forte.
Eu não estou a pedir para que se formem facções, longe disso! Vocês têm de trabalhar aí e é aí que têm de estar. Saio eu, vocês ficam.
Só mais uma coisa: aqui ninguém é pequeno e todos podemos fazer coisas. Nada de discursos miserabilistas, gente! Então?!
Vou tentar ser digna dessa confiança e já quanto ao anonimato... pode não ser vil mas é infeliz. Mesmo que por razões de segurança. Como eu vos disse no início deste inferno: desde o momento que me digam a mim quem são, eu não ponho objecções e respeito o desejo/necessidade de não divulgação de um nome. Mas esse nome deveria existir...

Marta Queiroz disse...

Já conversei consigo um pouco sobre a sua saída e sabe que fico muito triste, mas eu tento compreender. Acerdito também que, como boa professora que é nunca perderá o contacto connosco, e isso deixa-me mais descansada :)
Obrigada.
Gosto de si Professora, Sra. Bruxa, Maria João! :)
Beijinho.

A Bruxa das PAPs disse...

Pode estar descansada, menina da Terra do Nunca: eu não vou a lado nenhum. O meu caldeirão vai continuar a fazer poções e feitiços para os aprendizes que o desejarem. Pode contar comigo sempre que quiser!
Um grande beijinho